segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Acabei de ler: " E a História Começa", de Amós Oz

Ganhei o livro "E a História Começa", do escritor israelense Amós Oz numa promoção de um site. De qualquer modo, independente de ter sido um brinde, é um livro que me despertava interesse.

Tem como subtítulo "Dez brilhantes inícios de clássicos da literatura universal", mas eu temia que pudesse ser um daqueles ensaios literários enfadonhos e longos, indecifráveis. Onde se discute e se (re)interpreta uma obra literária, encontrando milhares de sentidos, significados, símbolos e mensagens ocultas. Acabamos chegando a conclusão que, se o autor tivesse mesmo tamanha preocupação, tantas pretensões e intenções, jamais teria sido capaz de escrever a primeira linha. Paralisado, ficaria imóvel diante da folha de papel, sem jamais ir além. Seriam os melhores livros não escritos.

Penso que essas análises literéarias são, em si mesmas, um gênero literário. Talvez até do Realismo Fantástico...

Claro que escrever é um ato premeditado, transpira-se para escrever. Noites em claro, dias de angústia. Escrever só é fácil mesmo, descomplicado, em um blog (risos).

Apesar de escrito a partir de aulas em universidades e palestras acadêmicas, dispensa citações de teóricos, pesquisadores da Linguagem etc. Vale sobretudo por despertar o interese pelas obras que discute, sem extenuar o leitor .Textos curtos, escritos com leveza, sem afetação.

Para Amós Oz, cada livro estabelece com o leitor uma espécie de "contrato", onde sempre se deve ler as letrinhas miúdas, para evitar engano, mas onde lendo apenas as letrinhas miúdas podemos ser igualmente enganados, "por não conseguir ver a floresta de tanto olhar as árvores". É o que ele tenta evitar e consegue.

Cada um dos textos caberia bem com prefácio às obras analisadas, talvez até melhorassse algumas delas. O problema principal é a ausência de edições brasileiras das obras tratadas. Quando pensamos em "Dez início brilhantes de Clássicos da literatura universal", pensamos em "Crime e Castigo", "Don Quixote" ou "Grandes Esperanças", livros assim. Há autores desconhecidos na lista, obras menos conhecidas de autores consagrados. Por exemplo, pensar num clássico de Gabriel Garcia Marquez é lembrar automaticamente de " Cem Anos de Solidão", mas Amós Oz escolhe "O Outono do Patriarca".Talvez o subtítulo adequado fosse "meus dez inícios favoritos ", mas teria apelo comercial mais reduzido.

No bonito texto do capítulo final, autor afirma que a leitura nos convida para "um mundo de prazeres e jogos divertidos". Mas, sem acesso aos textos comentados com tanto rigor e paixão, ficamos à margem da sedução, excluídos da brincadeira, dispensados do jogo de futebol pelo dono da bola.

A propósito: para ganhar o livro era preciso escrever um parágrafo do que seria o início de nossa própria biografia.

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