sábado, 29 de dezembro de 2007

DÊ-SE UM PRESENTE:VIVA O PRESENTE!


Promessas de fim de ano, quem não faz? É o emprego novo que finalmente vai nos realizar, férias merecidas. Sair mais vezes, se divertir mais. Mudar. A lista é longa e bem variada, para todos os gostos e oportunidades...
Parece que tudo conspira para esse clima de euforia e fantasia. Tem décimo-terceiro, a mesa farta, "que tudo se realize", as férias escolares, a nostalgia da infância e as luzes coloridas.
A cada fim-de-ano, entretanto, evitamos pensar nas promessas feitas naquele que passou. Lembrar que fizemos o mesmo apenas um ano atrás. Fugimos da culpa, da sensação de fracasso e incompetência que a constatação que realizamos tão pouco.
As promessas de agora são mais ou menos iguais as do ano que acabou. Têm a mesma consistência da espuma do mar onde se pulam as sete ondas, a fugacidade do brilho dos fogos de artifício. Compõem a euforia obrigatória dos finais de ano, como o panetone e a rabanada. "Pra você tudo em dobro !"
Já no dia seguinte acordamos sabendo que nada foi prometido muito a sério. Acordamos com desânimo, o corpo dolorido. O cansaço incômodo de uma noite mal dormida, ou" nem dormida". A desconfiança de que pagamos algum "mico" ontem. O quê mesmo ?A promessa de um ano melhor já começa com mau-humor e impaciência. A dor de cabeça insiStente do "champanhe que agora borbulha na taça da minha cabeça". Uma irritação com tudo que possa lembrar a alegria de ontem. Um "Engov" antes, um depois?
Não há uma decisão, só o sonho. Não há perspectiva, só a fantasia infantil de fechar os olhos e ver tudo se realizar. E não contamos nem mesmo com a Sorte para realizá-los, aquela SORTE escrita com letras grandes, que fazemos acontecer, que acreditamos possível, que nos julgamos merecedores. Somente aquela outra, acanhada e anêmica: o acaso.Talvez tenhamos sorte de finalmente sermos reconhecidos, de sairmos à rua sem risco de vida eminente, de melhores oportunidades. Um novo amor, um renovado amor antigo. Talvez sim, talvez não. De qualquer forma, talvez.
De concreto, pouco ou nada fazemos. Sequer abrimos os classificados confiantes de encontrar um trabalho prazeroso, nem nos matriculamos naquele curso que vai capacitar para o que gostamos de fazer.A poupança para as férias.Tudo já é promessa do ano passado.Vamos continuar nos sobrecarregando de atividade, para depois nos justificarmos dizendo "não tenho tempo para mim" etc. A vida vai seguir um caminho qualquer, ao sabor do vento.
O problema é que há um espaço de tempo muito largo até o próximo "reveillon". Trocam-se presentes, festeja-se. Mas o presente duradouro, os fogos verdadeiros, e não os de "artifício", já estão conosco neste instante. Será que neste exato momento temos motivo para ser feliz ? Mesmo um motivo "pequeno"?
Tudo que precisamos para termos felicidade já está disponível.Pensamos em felicidade sempre no futuro, às vezes num passado nostálgico.Mas a felicidade só aconteçe e só pode acontecer no momento presente. Não amanhã, ou daqui a dez minutos. Já. E temos em nossas mãos a possibilidade real de torná-la perene. Basta sentir a vibração dentro de si, o amor enchendo as mãos, uma força enorme e sagrada brotando de dentro do peito e se espalhando em todas as direções.
Lembrar que o rio apenas segue seu curso, sem se perguntar sobre o que vem após a curva. Seu caminho não é o mais fácil, nem o mais reto. Apenas vai em frente. E sempre encontra um mar exuberante à sua espera.
Sei que na segunda-feira vençe a fatura do cartão de crédito, o relatório tem de ser revisado, o carro está na oficina e não vai ser entregue etc. Realidade não combina com magia. Mas o que recebemos em troca dessas preocupações? Os problemas ficam mais fáceis? Duvido! Encontramos soluções melhores agora ou na hora em que teriam de ser tomadas?As preocupações nos esgotam porque são apenas OCUPAÇÕES. Está somente antecipando sofrimento, ampliando a importância de situações que somos humanamente capazes de resolver a seu tempo, no tempo certo.
Esqueçamos as promessas, não adiemos mais o prazer de estar vivo. Neste exato momento, dentro de nós pode acontecer o mais importante. Dê-se um presente: viva o presente.

sábado, 22 de dezembro de 2007

Eu, manequim de loja.


[Tentativa de conto de horror]





Estamos todas amontoadas naquele lugar insalubre."Todas " é modo de falar, porque há "homens", "mulheres, " meninos", "meninas " e até "bebês". Eu sou "mulher", mas também é em sentido figurado. Tenho seios e curvas perfeitas, estrutura longilínea. Qualquer pessoa me atribuiria o sexo feminino, um belo corpo. Os humanos, entretanto nos permitem apenas a aparência, o invólucro superficial. Não temos substância, miolo. Sem cérebro, sem tripas.Sem genitália, sem sexo. Somos carcaças.

Faltava tudo naquele cubículo. Sem ventilação, sem luz solar. Sobrava poeira, papéis pelo chão. Móveis quebrados, cadeiras sem pernas.O ar empesteado, cheirava a urina de rato e mofo secular. Para mim, algo como aquilo que os humanos chamam de navios negreiros, em seus livros de história. Ou os presídios, onde eles trancafiam sua própria escória. O lixo. traficantes, assassinos em série, estupradores. "Ratos'", como aqueles fedidos que sujavam nossos pés, roíam nossos "corpos", guinchavam. Na mais profunda escuridão, desconhecendo dia ou noite. O horror de estar condenados, reduzidas a ratos e "ratos". O horror.

Estávamos encarceradas, mas na porta não estava o letreiro indicando " presídio', "cadeia pública" ou coisa assim. Nenhum desses nomes que provocam uma imediata sensação de desconforto ou medo. Havia apenas uma placa, um pedaço de papel indicando "depósito". Um nome comum, daqueles que passam despercebidos. Um nome simples.

Éramos um sem número. A maioria em bom estado de conservação, quase novos (duramos anos ...). Alguns sem um ou outro braço , ou perna. Serviam para fazer reparos. Havia ainda pernas e braços espalhados. Corpos remendados com fita adesiva ou outro recurso grosseiro. Cabeças sem corpos, corpos pela metade. Braços jogados num canto. Em prateleiras, enfileiradas, havia o que há de mais terrível: bustos sem pernas ou cabeças, bebês sem cabeça. " Homens tanquinho" para vender camisetas, "Gostosonas" para vestir biquínis e calcinhas. Sem pernas, sem coxas, sem braços, sem cabeças.

Eu estava naquele lugar a poucos dias. Acabara de sair da fábrica. Nova, mas nunca inocente. Nunca somos crianças, ainda que alguns tenhamos aparência de bebês. Sorrisos angelicais no rosto. Somos produzidas em série, filas indianas de "iguais. Somos fabricados com ódio, há descaso conosco.

Como !? você olha para nós com indiferença? Vê nossos sorrisos plastificados, nos vê felizes. Um comercial de margarina. Ou "Brasil, país de todos". Você acredita?



Você vai feliz às compras, satisfazer sonhos de consumo e vida plena. Você mal nos enxerga, hipnotizada de cobiça e vaidade. Você está num mundo de fantasias, nós somos a mais amarga realidade. Nós trazemos desprezo, ridículo. Nós te ameaçamos, enquanto assistimos tua satisfação. Você veste o que mandamos, com sensações de luxúria e romance na cabeça. Nós trazemos desencontro e desilusão aos teus sonhos cor- de - rosa. Destruímos o teu amor que poderia ser eterno. O desconforto e o cansaço que carregas às costas somos nós que te damos. O mal-estar que te consome as entranhas, vêm de nós. Imóveis, estáticas, espalhamos a infelicidade para tudo que é humano. Somos como a morte. Endurecemos, onde houver leveza e paz. Congelamos o sol. Levamos fraqueza e desânimo. E quando houver fartura, seremos a miséria. Estamos às ordens.


A porta foi aberta logo cedo. O cheiro de morte que saia, não pareceu atingir as narinas dos dois rapazes que entraram. Procuravam uma de nós, escolheram a mim. Era uma grande loja de departamentos, eles dois pobres coitados.Peões. Faria com que tivessem um dia muito pior.


Fui carregada. Passei por eletrônicos, brinquedos, utensílios domésticos, doces e biscoitos. Seção infantil, roupas femininas. Cheguei.



Seguraram meu "corpo", enquanto a Mulher que dava ordens decidia onde me colocar. Esfregaram uma flanela molhada em meu "rosto", repetiram em meu corpo. Eu fedia, nada podia esconder meu mal cheiro. Passavam um líquido perfumado, ficaram satisfeitos. Inútil. Eu era o esgoto.


A Mulher que dava ordens testava as opções de roupas para eu usar. Resolveu me colocar na vitrine. "Estilo festa ", decidiu.


Experimentou , resolveu que eu usaria um vestido preto, sapatos altos, bracelete e colares no "pescoço". Satisfeita, ajustou um cinto em minha cintura, pendurou uma bolsa em meu ombro. Carregaram-me para a vitrine. Um cubo de vidro, com uma porta em frente. Até que chegou a hora de abrirem a loja. Pontualmente. Ser vista.



A vitrine era ansiosamente esperada por nós. Um lugar nobre, mas por motivos diferentes daqueles que você imagina.



Estávamos ali para chamar atenção, atrair a curiosidade dos passantes, chamar clientes. Eu era a parte principal de um cenário quase teatral, montado com cuidado e planejamento. Talvez permaneça semanas, até meses naquele lugar. Quando levantaram a porta barulhenta, uma coisa tomou conta de mim, indefinida. Diria que "um frio na barriga", se tivesse entranhas... Somos ocas, esqueletos revestidos. Senti o Poder.

Para nós, era bom estar na vitrine, quase um sonho, pode ser vista por tantas pessoa. Receber olhares demorados, criteriosos. Ser avaliada. Ou um olhar simples e rápido, displicente. Tanta gente passando.

Tem a mulher que decide-se rápido a entrar e comprar um igual, as meninas arrogantes que cochicham achando "ridículo". A moça que acha lindo, quer comprar e é humilhada pelo preço proibitivo, exorbitante. A outra, gastando o seu mês de salário e maus-tratos do patrão. Tudo para ter um pedaço de pano do qual vai se cansar em poucos dias.

Diante de nós, tanta fantasia. Nos alimentávamos dessas ilusões, impulsos consumistas, satisfações passageiras, felicidades superficiais. Aquele turbilhão de emoções e sensações que captamos e amplificamos. Uma antena, uma sorvedouro. Prenchemos tudo que colocam em nós com todo o desprezo que temos pelos humanos.

Nas fibras dos tecidos, na liga dos metais, no brilho dos adereços. Em tudo, em cada centímetro, demonstramos o que os humanos são para nós. Lixo putrefato.Estúpidos narcisistas. Raça evoluída?

Transferimos ódio. Ficamos grudadas em cada peça, como tatuagem. Tecidos carregados de medo, blusas transparentes reluzindo breu. Calças com detalhes de angústia e fios de sangue. O que não sai com agua e sabão, nós colocamos em sua vida. Cada peça traz desencanto a vida de quem a escolher.


Basta tocar uma de nós, consultar o preço na etiqueta, verificar a composição ou a textura do tecido. Basta um olhar mais demorado, deixar-se dominar pelas fantasias. Fazer contas, querer comprar. Basta isso. Imagine levar exatamente o que estou usando?

Eu usava uma peça única e certa vez a cliente insistiu e levou tudo o que estava vestindo. Dos pés à cabeça, podemos dizer. E eu estava com aquela roupas a semanas...o que terá acontecido a ela?

Sei que tudo está a venda na loja.É para isso que existem. Mas o que vestimos, se vocês soubessem nunca levariam para casa. Era para ser queimado.


Você enxerga em nós apenas um cabide, um suporte? Mesmo? Você enxerga "glamour", sofisticação em nós? Vê o luxo ? Isso é para aquela outras, as de passarela. Giseles, Naomis. Nosso mundo é outro.
Somos a beleza ao avesso.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Acabei de ler: " E a História Começa", de Amós Oz

Ganhei o livro "E a História Começa", do escritor israelense Amós Oz numa promoção de um site. De qualquer modo, independente de ter sido um brinde, é um livro que me despertava interesse.

Tem como subtítulo "Dez brilhantes inícios de clássicos da literatura universal", mas eu temia que pudesse ser um daqueles ensaios literários enfadonhos e longos, indecifráveis. Onde se discute e se (re)interpreta uma obra literária, encontrando milhares de sentidos, significados, símbolos e mensagens ocultas. Acabamos chegando a conclusão que, se o autor tivesse mesmo tamanha preocupação, tantas pretensões e intenções, jamais teria sido capaz de escrever a primeira linha. Paralisado, ficaria imóvel diante da folha de papel, sem jamais ir além. Seriam os melhores livros não escritos.

Penso que essas análises literéarias são, em si mesmas, um gênero literário. Talvez até do Realismo Fantástico...

Claro que escrever é um ato premeditado, transpira-se para escrever. Noites em claro, dias de angústia. Escrever só é fácil mesmo, descomplicado, em um blog (risos).

Apesar de escrito a partir de aulas em universidades e palestras acadêmicas, dispensa citações de teóricos, pesquisadores da Linguagem etc. Vale sobretudo por despertar o interese pelas obras que discute, sem extenuar o leitor .Textos curtos, escritos com leveza, sem afetação.

Para Amós Oz, cada livro estabelece com o leitor uma espécie de "contrato", onde sempre se deve ler as letrinhas miúdas, para evitar engano, mas onde lendo apenas as letrinhas miúdas podemos ser igualmente enganados, "por não conseguir ver a floresta de tanto olhar as árvores". É o que ele tenta evitar e consegue.

Cada um dos textos caberia bem com prefácio às obras analisadas, talvez até melhorassse algumas delas. O problema principal é a ausência de edições brasileiras das obras tratadas. Quando pensamos em "Dez início brilhantes de Clássicos da literatura universal", pensamos em "Crime e Castigo", "Don Quixote" ou "Grandes Esperanças", livros assim. Há autores desconhecidos na lista, obras menos conhecidas de autores consagrados. Por exemplo, pensar num clássico de Gabriel Garcia Marquez é lembrar automaticamente de " Cem Anos de Solidão", mas Amós Oz escolhe "O Outono do Patriarca".Talvez o subtítulo adequado fosse "meus dez inícios favoritos ", mas teria apelo comercial mais reduzido.

No bonito texto do capítulo final, autor afirma que a leitura nos convida para "um mundo de prazeres e jogos divertidos". Mas, sem acesso aos textos comentados com tanto rigor e paixão, ficamos à margem da sedução, excluídos da brincadeira, dispensados do jogo de futebol pelo dono da bola.

A propósito: para ganhar o livro era preciso escrever um parágrafo do que seria o início de nossa própria biografia.

domingo, 16 de dezembro de 2007

sábado, 15 de dezembro de 2007

Acabei de ler: "O ADVERSÁRIO", de EMMANUEL CARRÈRE

Começei a ler "O Adversário" com certo desconforto, um mal-estar indefinido, e também uma atração irresistível. Uma mistura de medo e fascínio como as tragédias humanas,as mais bárbaras e surprendentes, são capazes de provocar. A sensação de subir numa roda-gigante, entrar numa montanha-russa. E o livro apresenta uma dessas histórias aberrantes, que se não fosse apresentada como "reportagem", seria inverossímel. Descartaríamos sem pensar duas vezes.É a realidade superando a ficção.
Na manhã de 9 de janeiro de 1993, o médico francês Jean-Claude Romand mata sua mulher e os dois filhos. Viaja até a casa dos pais e mata-os também. Em seguida, tenta se suicidar, ateando fogo a própria casa. É resgatado pelos bombeiros. Fica em coma, mas sobrevive. A partir da tragédia, todos descobrem que aquele homem discreto, bom marido, pai e filho atencioso, que todos julgavam um exemplo de sucesso e discrição, viveu uma mentira por 18 anos.
Quem o conhecia se pergunta como foi possível ele levar adiante a mentira por tantos anos, saindo de casa diariamente para trabalhar, viajando para congressos e seminários ao redor do mundo, convivendo intimamente com tantas pessoas sem despertar suspeitas sequer de sua própria mulher. Conseguir simular ser um médico quando sequer concluiu o curso de medicina, não fazia e não faz o menor sentido. O autor alerta: " Um mentiroso se esforça para ser plausível; não sendo, a história que conta deve ser verdadeira."
Um trecho do livro, onde é descrita a morte dos pais explica o título e dá uma dimensão do espanto que é o crime de Jean-claude Romand:"No instante em que viam a morte, viam desabar tudo aquilo que dera sentido, alegria e dignidade às suas vidas (...) Deviam ter visto Deus e, ao contrário, assumindo os traços do filho querido, viam aquele que a Bíblia chama de satã, quer dizer, o adversário."
Escrito sem sensacionalismo ou sentimentalismo forçado, já que a história é, em si, tão crua e terrível que dispensa qualquer artifício, "O Adversário" incomoda por nos mostrar o lado oculto dos seres humanos, que talvez esteja adormecido em nós mesmos. Não há a figura do monstro, do assassino premeditado, do psicopata serial. Jean-Claude Romand tampouco é uma vítima, por quem posssamos ter compaixão, piedade. Comprendê-lo é impossível. Mesmo as observações dos psiquiatras parecem alucinadas, despropositadas.
O autor percebe que não pode ir muito além do relato dos fatos descritos no processo, de sua história pessoal perseguindo a verdade por trás das aparências etc. Afinal, como confiar em seu depoimento ou sinceridade? Conhecê-lo dispensa qualquer julgamento. É terrível, mas fascinante. Recomendo, mas não é uma leitura amena. Meu desconforto aumentou.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

ABOBRINHAS: Revistas irresistíveis, manchetes espetaculares


Manchete do ano:" Upa,upa! "

A Editora Abril decidiu que eu sou um assinante potencial de suas revistas. Só pode ser ! Não há outra explicação para as ofertas generosas de exemplares gratuitos. A Abril está certa. Revista é algo iresistível para mim. Tenho comichão se vejo alguém com uma revista nova nas mãos, fico suando frio, aflito para dar uma espiada. Por isso aceito de bom grado todas as revistas que a Abril me ofereçe. Qualquer que seja, sem preconceito.
Agora estou recebendo "Caras", "Revista da Semana" e "Contigo". Todas um primor de qualidade editorial, cada uma a seu modo.
A "Revista da Semana", a mais recente da Abril, é uma espécie de prima da "Veja". Sendo mais barata e menor em tamanho, destina-se a uma leitura rápida, nas filas de banco, salas de espera ou viagens curtas.
A aparência de uma página de portal da internert reforça a sensação de leveza do conteúdo, embora tenha informações consistentes. Pudera, suas informações são sempre baseadas em algo que já saiu em outro veículo de informação. Desde o portal G1 ou Abril.com, até o tradicional "Libération". torna-se assim uma espécie de miscelânia dos fatos mais comentados e importantes do momento. Não é leitura obrigatória para quem tem acesso a outras revistas semanais, mas vale uma espiada.
A "Caras" e "Contigo " disputam a mesma faixa de público, mas tem diferenças. Pequenas, vale ressaltar.
"Caras " é ,sobretudo, a revistas dos famosos, e nem tanto. Celebridades do momento, estrelas decadentes e astros obscuros dividem espaço com talentos verdadeiros.

Tenho amigas que gostam de folhear a revista para "ver os modelos", como se a costureira da esquina pudesse reproduzir a contento o Dolce e Gabana ou o Chanel que a atriz usou na entrega do Oscar. É uma revista que serve exatamente para isso: ver as fotografias, ver gente feliz e bem sucedida, ou fingindo ser. Aliás, em "Caras " e "Contigo", todos parecem possuir a receita da Felicidade.
O mais divertido e interessante, tanto em "Caras" quanto em "Contigo" é o estilo das manchetes e chamadas. Por exemplo: " Gisele Itié: sonho com cinco filhos" . Logo adiante, afirma - sem qualquer pudor - que ela "não tem pressa para realizar o sonho" e sequer tem um pretendente! Ou esta outra:" Malu Mader tiete: com Tony ela vê filme da sobrinha". Ou ainda, " Luiza Brunet: linda, leve e solteira."
A "Contigo", revista que tem um foco em astros e acontecimentos da TV, dá menos espaço a quem não é de fato famoso, tem um texto leve como o da "Caras", mas mais consistente.Tem mais "informação", texto mais apurado. Ainda assim, suas manchetes são irresistíveis. Na última edição temos " Fernanda Lima: estou louca para ter desejos" e "Vanessa Giácomo: já sou uma mãe coruja". Temos a impressão que todas as celebridades resolveram engravidar, ao mesmo tempo. Mas o destaque entre as manchetes é a de um artigo em que Julia Roberts brinca com a filha: " Júlia Roberts: upa, upa ! ". Precisa comentar?

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

HIPNOSE




HIPNOSE


Não, não serás meu último refúgio
Barco que se foi,
Desalento.
Silêncio que dói no ouvido.
És fala,
Palavra,
Pluma.

Carícia e calma.
És o quintal menino lá de casa
A cama quente,
O acalanto em minha alma.

Fecho os olhos e te vejo
Água da vida que bebo
Verso emocionado que canto.

Deixa comigo tuas asas
E jamais meu coração será
lugar de abandono e pranto.
Trago comigo a certeza que amar é orar na multidão
É quase ser santo.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

NOSTALGIA


Nostalgia


É quando o que passou

não é mais tão ruim quanto parecia.

É aquela lembrança que chega,

de repente.

E com o peito cheio de emoção

a gente diz:

- Ganhei meu dia!

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Ouça o que eu digo : TONI PLATÃO

Adoro Toni Platão,
mais ainda o Tony Platão.

Comparar Toni Platão e Cássia Eller é tão lugar-comum quanto relacionar Djavan e Jorge Vercilo. As semelhanças existem, até mesmo fisicamente. Sou fã de ambos, mas acho que a comparação não se sustenta. Toni Platão canta como um lamento, com a tristeza de um "Bluesman". Tem um ar mais contido, e denso. Interpreta canções "pop" com um acento dançante, "black". Cássia é, sobretudo, uma roqueira de atitude, com voz forte, visceral. Surpreendentes, tanto Cássia quanto Platão percorrreram um caminho longo e lento até o sucesso popular.

Acabei de comprar o "Toni Platão/ Negro Amor". O CD é uma aposta no potencial de Toni Platão tornar-se um ídolo romãntico, com a regrvação de um sucesso de Márcio Greik,
"Impossível Acreditar que Perdi Você". Uma bonita versão, valorizada por seu timbre personalíssimo. Mas é uma concessão ao gosto popular, que não tem muito a ver com seu estilo, que adoro. Gostava da canção antes e gosto mais agora, nada contra. Mas pareçe que, depois da Adriana Calcanhoto descobrir o caminho das pedras e vender um milhão de cópias com "Devolva-me", todo mundo tem de fazer uma versão acústica de um sucesso radiofônico. Muito melhor é a versão da canção do Antonio Marcos, gravada pelo Roberto carlos nos anos 70, "Eu Não vou mais deixar você tão só". Emocionante, poderia estourar nas rádios.
O melhor do CD, entretanto é uma antiga canção do Jards Macalé. "Movimento dos Barcos", tem uma letra maravilhosa e Toni Platão canta como antigamente, tem na voz a mistura terna de alegria e tristeza dos discos anteriores, que se perdeu nesse de agora. Também temos o antigo Tony (com "y") em "Em Segredo". São as duas melhores faixas do CD. Já valem o investimento, garantem que vou tocá-lo muito. Também "Negro Amor" ficou bonita, mas sentí falta da versão de Gal, com toda aquela raiva sofrida na voz.

Tem deslizes também, mas que não comprometem:"Loiras Geladas" ficou estranha, irreconhecível. E mais uma ou duas canções com as quais não me acostumei ainda.
Aguardo, ansioso pelo próximo!

ESCREVER PARA QUÊ?


Escrever para quê?
Se o que tenho para dizer são meias palavras, imprecisas ?
Se minha sinceridade só vai até certo ponto?
Escrever para quê?
Melhor arrumar a bagunça do quarto.
Se tudo quando me julgo original é apenas o que li em outro lugar ?
Até meu RG é uma xerox plastificada.
Se me envergonho no dia seguinte, como um porre e a ressaca ?
Se quem ler vai detestar e vou ter de concordar ?
Oferecer a outra face é para quem tem estômago.
Se não vou mostrar nem mesmo aos amigos ?
Não dá pra confiar em mais ninguém.
Escrever para quê?
Se tem o Pessoa, Whitman, Drummond ?
Escrever pra quê?
Tenho sono e faz frio, mas sinto calor, acho que vai chover...

Se escrevo apesar de tudo, é para quê, me digam ?
Como é tão inútil, mas eu tenho.
Escrevo porque "sim " e "não",
Escrevo, pois não me contenho
Poesia é pão:
Escrevo pra não morrer de inanição.

Poesia envolve o corpo
numa banheira de flores e champanhe,
mas, veja, tem uma lagarta-de-fogo na ponta da língua.
E o que queima na boca do estômago não é a fome.
Escrever é estar muito só.
De escrever, morre-se à míngua.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

PALAVRA


Uma palavra

Solta

Crise de identidade
ou dupla personalidade?

Em que página do dicionário?
Palavrão

ou relicário?

Uma palvra esperando alguém dizer
para finalmente
ser
solta.

domingo, 9 de dezembro de 2007

CONFESSO




Estou cansado.
Dessa solidão acompanhada.
Do frio, no sofá da sala, do porta-retrato vazio
e guardar memórias entre quatro paredes.
De ainda ser tão inseguro e impaciente,

quando já era tempo de maturidade.
De manter o peito queimando, por amar tanto,
e só conhecer o abandono.
De falar de amor às pessoas erradas,

quando era melhor silêncio e solidão.
De me entregar ao desejo
quando é o calor de tua mão que me aqueçe.

Dessa rotina que me consome,
quando viver é o inesperado.
De lembrar tanto do mal que me fizeram,
quando era mais simples o perdão e o esquecimento.

De perder tempo com gente medíocre.
De ver tanta gente estúpida se dando bem.
De ler nos jornais " medo" e " corrupção".
De ouvir alguém falar que " não aguenta mais ", sem nada fazer.
De nunca ter tempo para os amigos
e morrer de saudade.

De viver sem esperança em dias melhores
e acreditar, apesar de tudo, quando dizem " tudo vai passar".
De ter dado ouvidos quando disseram "Deus não tem nada a ver com isso",
quando Ele é que me faz enxergar.
De ser um homem menor a cada dia

quando me prometi grandeza de sentimentos.
De carregar essa dor humana no peito,
quando preciso de mais humana alegria.
De trazer comigo um cansaço tão antigo.
Eu confesso: é hora de reagir.

CALENDÁRIO PERMANENTE


O dia mais feliz de minha vida vai começar agora.

É quando permitirei que o sol invada meus porões sombrios e afaste de mim toda amargura e toda culpa.

Deixarei que sua luz expulse dos cantos e dos tapetes a sujeira e o pó onde acumulei mágoa e ressentimento.

Recolherei as mentiras espalhadas e apagarei do chão as marcas das tantas vezes em que fui pequeno e covarde comigo mesmo.
Terei compaixão por ser assim, humano e errado, mas perdoarei a mim mesmo.

Abrirei o armário da memória e dele retirarei antigas cartas de amor. Rasgarei fotografias que me mostram triste e esquecerei tudo que fiz por obrigação ou dever. Haverá espaço largo para as boas lembranças do que ainda virá. Para novas cartas de amor, talvez até mais ridículas. Para fotos com sorrisos sinceros. E guardarei apenas recordações da certeza de ser livre.
Só a verdade caberá em mim.

E no ar que esteva bolorento, antes repleto de desesperanças e angústias, flutuarão agora aromas silvestres de flores. Abrirei as janelas para que o cheiro de terra molhada invada meus pulmões cansados.
Lá fará morada o assombro de acreditar na vida.

Destrancarei todas as portas que, fingindo proteger, me prendem ao que passou.
Sairei à rua de peito aberto e sentirei que todo lugar é minha casa. Cruzarei no meu caminho com homens e mulheres desconhecidos. Nos rostos onde havia temor e desconfiança, encontrarei amigos leais. E o meu olho acenderá seus olhares, como isqueiros. Queimando o mesmo calor. Então, cicatrizará em mim a solidão e o desamor.

Vou sentir o coração brilhar de novo, um colorido néon. Um coração bailarino dará voltas no peito. E vai brincar dentro de mim, com a alegria de criança num carrossel iluminado.

Como uma mãe dá luz a um filho, lançarei sementes de perdão e paz pelos caminhos que passar. Minhas mãos nuas vão colher o fruto doce dos sonhos realizados, a suculenta felicidade.
Viverei a abundância.
Enfrentarei toda perda, desilusão e dor que vier, pois olharei para cima e verei muito mais que as estrelas. Por trás das nuvens carregadas está o azul calmo que me protege.

A vida é a partir de hoje. Meu primeiro dia começou.

Nunca mais as horas correrão rápido, o ano acabará na metade. Dezembro não será o último mês. Passado e futuro não importam mais, pois a beleza é este exato momento.

Comemorarei as mudanças de estações e os aniversários, com a certeza de estar no melhor da vida.

Cada instante será intenso, como o sabor de um brigadeiro, uma taça de vinho, a espera por quem se ama.

A todo instante direi obrigado.

Farei de cada dia um calendário permanente, onde tudo continua e nunca se repete. Tudo é começo. Cada dia será melhor e mais belo, simplesmente por estar VIVO !