quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Escritores da liberdade, o filme


Sobre o filme


Em Los Angeles, Califórnia, início dos anos noventa. Tensão explode em conflitos raciais, revelando uma cidade dividida.

No cenário de violência, a jovem professora Erin Gruwell inicia sua vida lecionando no Colégio Woodrow Wilson. O colégio está no início de um programa de integração racial e se tornou de escola modelo, em um território de gangs, um ambiente socialmente degradado.

Jovem bem-nascida, tem uma visão idealizada da profissão. Diante do olhar incrédulo da burocrática chefe de Departamento, confessa: “Pensei estudar Direito, quando vi os conflitos nas ruas. Mas pensei: se eu estiver defendendo quando já forem aos tribunais, a batalha já estará perdida. A verdadeira luta está aqui, na escola”.

Os primeiros contatos com a turma são desanimadores. A sala de aula reflete a divisão racial. Latinos, asiáticos, brancos e negros, isolados em seu espaço. Cada grupo com sua linguagem e sinais, hostis entre si. Como diz uma das alunas: “As escolas são como a cidade. Todas elas divididas em seções separadas”. Ao menor sinal, a violência explode dentro da sala. E já está banalizada, faz parte da rotina de todos.

Procurando apoio dos colegas na sala dos professores, Erin Gruwell escuta que não deve desanimar, pois logo os alunos da turma “param de vir, desistem”. A escola fecha os olhos à realidade social. Mantem-se alheia aos conflitos, mesmo quando ocorrem no pátio da escola: “É nossa política não discutir o assunto”, revela um dirigente.

A primeira tentativa da Professora Erin é com o uso de letras de música para ensinar conteúdo de Inglês. Seleciona um RAP, mas os alunos sabem a letra de cor e desdenham: “Você não faz idéia do que fazer aí na frente, não é? Nunca deu aula antes, não é?”.
A professora tem um “insight” quando descobre um desenho de conotação racista circulando na sala. Fazendo um paralelo do racismo cotidiano e da luta entre as gangs com o nazismo e o holocausto, revela-se toda a tensão, os ressentimentos contidos nas vidas dos seus alunos. Inclusive seu papel é questionado, mostra às contradições de sua história em comparação com a dura realidade dos alunos. Uma aluna diz: “Você não sabe a dor que a gente sente”. Um colega completa : “ Não vou te respeitar só porque te chamam professora”.
Num esforço para compreender seus alunos, a professora faz perguntas sobre as dificuldades comuns a todos eles. Surpresa, ela descobre que somente um deles já ouviu falar em Holocausto, mas quase todos já levaram um tiro.

É visível o esforço da professora para cumprir seu papel, enfrentando o sistema educacional acomodado, representado pela chefe de departamento.Para ela, o melhor que a professora Erin pode fazer é ensina-los a obedecer e ter disciplina. “Já é uma realização enorme para eles”, confessa.

A escola reflete essa visão autoritária: excludente e ineficiente, é um depósito de alunos tratados como incapazes, para quem os livros oferecidos são os mais simples, evitando o “desperdício” do acesso a livros novos e de qualidade.

Com o “jogo da linha”, a professora consegue avançar ao encontro com sua turma.
Passando uma fita adesiva no meio da sala, dividindo a turma em duas partes e colocando os alunos frente a frente, faz perguntas e pede que caso se incluam na resposta, caso digam SIM àquela pergunta, pisem sobre a fita. Frente a frente, olho no olho, membros de grupos rivais descobrem que tem pontos em comum. Percebem semelhança em seu estilo de vida, na exclusão social comum aos latinos, negros, cambojanos e brancos pobres. Parece que pela primeira vez percebem os colegas com seres que carregam a mesma dor e não como causadores.

Em outro momento, a Professora Erin Gruwell surpreende os alunos com cadernos, para que cada aluno escreva sua própria história e percebam que cada um é um indivíduo especial e único. O caráter didático da experiência, ao reforçar a auto-estima, não pode valer nota, classificação ou qualquer avaliação. Ressalta inclusive o direito de cada um a sua intimidade e privacidade, reforçando que só vai ler aquele que tiver (e quando tiver) permissão.

Certo dia, encontra os diários no lugar que significava permissão para que os abrisse. Os depoimentos comovem. Uma aluna diz: “Em toda guerra há um inimigo. Eu vi minha mãe apanhar até quase morrer. Vi o sangue e as lágrimas correrem no seu rosto e me senti impotente e assustada”. Um aluno diz já ter visto mais cadáveres que um coveiro.

O sucesso revelado pela integração crescente do grupo, melhores notas em redação e leitura, não facilita a vida da professora diante do departamento escolar. Os conflitos continuam. Buscando apoio do superior, a professora Erin procura o criador do programa de integração e mostra que, apesar de bem intencionado, na prática o programa “esconde os garotos até eles desaparecerem. Dizemos para irem à escola se educar e depois dizemos que eles não aprendem e por isso não vamos investir neles”.

Vencendo resistências, passa a acumular empregos temporários. Leva seu casamento ao fracasso, por investir todo seu tempo na tarefa de apoiar a turma da sala 203. Junta dinheiro e investe em viagens e visitas a museus, para alunos que nunca haviam saído do bairro em que nasceram.
A visita ao museu do holocausto e o contato com sobreviventes do Holocausto (Gloria Ungar, Elisabeth Mann etc.) é marcante. O depoimento do aluno revela uma ampliação da sensibilização diante da violência: “ Vi pessoas morrerem a vida toda. Não sei porque isso me tocou”.
No segundo ano, início de um novo semestre, a professora organiza uma mesa com taças e champanhe. Simbolizando um rompimento com o passado de anulação. Propondo “um brinde à mudança”, onde cada um expressa o que vai deixar para trás a partir daquele momento. Um dos alunos, ao invés de falar, pede licença para ler um trecho do seu diário:


“A professora Gruwell, minha professora maluca de Inglês,
é a unica que me fez ter esperanças. Estou na sala 203, estou em casa”.



No final do semestre, os alunos rebelam-se com a perspectiva de mudar de professor. Apesar das tentativas, fica evidente que terão que mudar de professor.
A leitura dos “Diários de Anne Frank” faz sugerir como atividade final que escrevam uma carta tendo com destinatário Miep Gies, a senhora que ajudou Anne Frank e sua família quando estiveram escondidos dos nazistas. Um dos alunos pergunta se Miep Gies vai ler as cartas. A professora diz que não. Temos nesse momento a turma tomando a iniciativa, soberanos, buscando mecanismos de construção do conhecimento. Articulam meios de enviar as cartas, promovem atividades para arrecadar fundos e trazem Miep Gies para visitar a Escola Wilson.

O projeto final da turma é a redação de um livro com o conteúdo dos diários. Um do salunos resume o sentido do projeto:

“Temos algo a dizer.Não somos mais garotos.Temos uma história.
Não importava se agradasse apenas a nós mesmos.
A professora pediu um título, algo que nos definisse.
Escolhemos ‘ Diário dos escritores da Liberdade’”.



Filme: Escritores da liberdade (Original: Freedom Writers)
País: EUA/Alemanha -

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Desaprendizado


Sabe,
desaprendi a respirar
e sentir o azul macio do céu
ver o sol e seu pulsar.


É que ando distante do teu olhar
vaso de rosas vermelhas.
E de teus lábios
montanhas ao entardecer.
Ainda escuto a mesma canção
que já não fala de nós


Viver é mesmo assim: Tanto e tão pouco.
Fiapos de memória e
nossos pedaços espalhados
no chão.