sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

“ A Queda - Os Últimos Dias de Hitler”

“Meu próprio povo falhou. Não derramarei uma única lágrima.
É o destino deles. Eles são os únicos culpados”
(Hitler,em “A Queda”)


Um grupo de jovens mulheres ultrapassa uma barreira policial, no meio da noite.Uma delas será escolhida como secretária particular do fuhrer Adolf Hitler.
Entre o temor reverente e a curiosidade, aguardam na ante-sala o momento de serem entrevistadas pessoalmente pelo próprio Hitler. Logo a porta se abre e ele surge. Aproxima-se, cumprimenta cada uma delas de forma amável, gentil. Quase uma figura paterna.
A primeira do grupo a ser avaliada é Traudl Humps, uma moça de 20 anos , de sorriso meigo. Antes de ditar o texto para que ela datilografe, Hitler lhe tranqüiliza: “Não fique nervosa. Cometo tantos erros que você jamais cometerá tantos quanto eu”.
Um Hitler que poderia ser qualquer um de nós. Esse é o primeiro grande impacto que o filme nos causa.Afinal, onde está o monstro sanguinário? Em que lugar se escondeu o sádico assassino de milhões de pessoas nos campos de concentração?
O filme “A Queda - Os últimos dias de Hitler” é muito mais que uma aventura juvenil, mais que um entretenimento para a “sessão da tarde”. Mostra aspectos do cotidiano no bunker nazista que nos permitem perceber também que os seres humanos são sempre contraditórios, “personas” complexas e surpreendentes, capazes de genialidades e altruísmo e da mais insana violência, sadismo e desprezo ético pela vida, num paradoxo que ocorre,trágico.
Baseado na obra do historiador Joachim Fest, principal biógrafo de Hitler e nas memórias de Traudl Humps, a secretária retratada no filme, mostra os últimos meses do regime nazista, a insanidade da guerra nas ruas de Berlin, a carnificina nos hospitais atulhados de feridos, a rotina de confinamento no bunke. E a irremediável aproximação da derrota final e todas as implicações.
No início do filme, num depoimento deTraudl Humps, agora uma velha senhora, ela admite:
“Deveria ter me dado conta da monstruosidade em que estava me metendo, antes que fosse tarde. Eu não podia imaginar o que estava para acontece re mesmo assim, é difícil perdoar a mim mesma por isso”.


No aniversário do fuhrer, 20 de abril, já se escuta o som da artilharia russa nos arredores de Berlin. O Hitler que vemos agora, diante do seu alto-comando é um homem transtornado, desfigurado, que vocifera, grita e esbraveja.
Em conversas reservadas, seus mais fiéis colaboradores já admitem a rendição. H. Himmler, chefe da SS e da Gestapo, negocia a rendição com os aliados:“Os Aliados vão perceber que só nós [os Nazistas] podemos resistir aos bolcheviques”.

Hitler alterna momentos de serena aceitação da derrota com delírios de grandeza ou acusações de covardia contra seus generais e o povo alemão.
Severamente bombardeada, Berlin é toda um amontoado de escombros, ruína. As forças nazistas entraram em colapso. Crianças e adolescentes se matam pelo Reich. O drama dos três milhões de civis berlinenses não comove Hitler: “Em uma guerra como esta não existem civis. (...) Se a guerra está perdida, não importa se o povo perecer”.
Tendo perdido o senso da realidade, Hitler insiste que batalhões destroçados enfrentem o ataque russo. Noutro momento é um homem alquebrado, que se lamenta: “Minhas ordens caíram em ouvidos surdos” e anuncia sua decisão: “Se acham que vou deixar Berlin, eu prefiro estourar os miolos!”.
No bunker fala-se de suicídio, discutem-se métodos de morrer rápido. Cápsulas de cianureto são distribuídas, pois são “método mais seguro e indolor”. O suicídio do alto – escalão nazista é mais que uma fuga das conseqüências da derrota. Há um clima de luto generalizado por algo que se perdeu. A mulher de Goebbels, pouco antes de assassinar os seis filhos do casal afirma:“Nosso ideal morreu. O mundo sem o fuhrer não é digno de ser vivido. Por isso as crianças estão aqui. Elas são boas demais para o que está por vir“.
Hitler se suicida junto com Eva Braun. Seu ordenança, Otto Gunsche carrega os corpos para uma vala e cumpre a ordem do fuhrer: “Quero que meu corpo seja queimado, para que nunca o encontrem”.
A morte de Hitler ainda não é o fim da guerra. Reunidos no bunker, seus colaboradores decidem sair e resistir aos russos até a última bala. Às mulheres do grupo é dada a sugestão de abandonar o grupo, atravessar as fileiras russas. Traudl Humps aceita sugestão.
Enquanto caminha , um menino alemão corre e segura sua mão. Atravessam juntos o batalhão russo. É uma afirmação da esperança, de um novo tempo, um recomeço para o povo alemão.
O depoimento final de Traudl Humps é a síntese da culpa que o povo alemão ainda carrega:
“Eu estava satisfeita por não ser diretamente culpada por todas aquelas mortes. E não sabia então sobre aquelas coisas (...) mas um dia percebi que ser jovem não era desculpa e teria sido possível descobrir toda a verdade”.

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